Les Carabiniers, França, 80min, 1963, preto e branco

Isso não pode ser a morte
Por que iria ela rondar o forte?
Não tendes vergonha de acreditar numa fábula?
Simplesmente alguém, para sua festa, ordenou este carnaval
Inventou esses tiros enquanto ele pisca os olhos
Como é encantador o baixo do anfitrião,
parece um canhão
E a máscara não é de gás, simples brinquedo farsante
Vejam!
Em sua corrida, o foguete mede o céu!
A morte teria essa graça ao deslizar pelo salão do céu?
Ah, não diga: “O sangue de uma ferida”
É odioso
Simplesmente, para honrar os heróis,
eles foram ornados de cravos
Claro!
O cérebro não quer compreender, nem pode
A nuca dos canhões, não fosse para um beijo
por que seria enlaçada pelos braços das trincheiras?
Ninguém foi morto
Simplesmente, não podendo mais estar de pé,
deitaram-se do Sena ao Reno
pois floresce e inebria a gangrena nos canteiros dos mortos
Quem disse mortos?
Não! Não!
Todos se erguerão
Assim, simplesmente, voltarão
e dirão sorrindo às suas mulheres: “Que brincalhão,
que fenômeno era seu anfitrião”
Eles dirão: “Não houve nem granadas nem explosivos”
É claro que não havia um forte
Alguém inventou para a festa
um mundo de admiráveis fábulas
O desejo de não morrer faz com que o significado do poema transcenda, sabendo que logo morreria, a jovem ironiza com a ideia da morte ser uma admirável fábula e que ainda permaneceria viva como num sonho, "todos se erguerão, assim, simplesmente, voltarão e dirão sorrindo às suas mulheres: que brincalhão [...]", ela também voltaria, os diversos tiros que leva não a matam por completo, caída no chão move o braço, o que faz o capitão atirar mais uma vez e outra e outra e outra. Homens e bandeiras caem de todos os lados: morre a jovem comunista, morre metaforicamente o carabineiro em sua violência. Morremos todos nós diante do horror de qualquer guerra. E as conquistas, ou a vitória, são todas ilusórias. Postais e mais postais se acumulam, à guisa de títulos de propriedade. Ulisses e Miguel Ângelo levam para casa os monumentos, os meios de transporte, as mulheres, dentre outras coisas. Fotografias e postais de tudo o que viram e que inocentemente não sabiam que já eram de cada um deles: tudo estava ali, eles não se reconhecem herdeiros dos bens da humanidade. Cleópatra até diz que dará o Pharteton para um familiar qualquer, visto que está velho e precisava de uma reforma.
Por fim, depois de uma longa cena enumerando cada um dos bens que logo entrarão em posse real, assim que a guerra acabar, há a divisão de tudo entre os quatro personagens, eles se encantam com cada uma de suas conquistas, escolhem, brigam, soam inocentes, mas não, o sorriso de mofa no rosto de cada um deles só nos mostra a genialidade de Jean-Luc Godard, eles são irônicos: não há vitória, só quedas. E sentimo-nos quedar diante da nossa inocência perante o mundo. E a lição permanece: por que não sermos igualmente inocentes irônicos também?
Nenhum comentário:
Postar um comentário