Pelo mundo


- Nome?
- Marcus Vinicius Camargo e Souza
- Doador de órgãos e sangue?
- Não sei...
- Não diz nada no seu RG.
- Eu não sei...
- A opção é sua...

Se a opção é minha e não há alguma indicação em meu RG, leve todo o meu sangue. Leve tudo. Assim que eu morrer, tudo pode ser (re)partido. Estraçalhe minha carne. Pegue meus olhos e ponha num mundo diferente. Meu coração ainda pode bater muitas vezes em outro lugar... cuidei tanto dele para isso mesmo. Leve tudo, não deixe que nada chegue ao caixão. Meu sangue não mais me pertence. Pó ao pó? Vida por vida, que vire pó por outra vida. Leve tudo o que achar necessário. Trance meus cabelos num casaco macabro. Meus dentes, minhas orelhas... os meus ossos podem ser úteis em artesanatos para serem vendidos numa feirinha. Leve tudo. Da minha pele deverá ser feito um quadro onde se pintará as ilusões. Por que sempre fui tão egoísta? Leve um dos meus rins agora, e quando eu morrer pegue o outro. Leve todos os pares agora. Leve... leve... leve, eu agora quero ser somente asa, assim quero viver para todo o sempre. Leve leve leve. Saltar de um astro a outro somente asa e o eu inteiro que não pode ser levado (desculpe, essa parte não seria saudável (re)viver em ninguém). É aquela parte que só a mim pertence. Que muitas vezes pode ser até o eu de verdade (se é que ela existe... não o eu, mas a verdade). Leve tudo de mim e me deixe leve de verdade, só asa, só imag(em)(inação), imbrique a palavra como quiser. Só quero estar aqui, o inteiro, para ver o que acontece ao final.