(res)pirando e outros poemas

quando duas voltas são três
eu me performo em uma nova forma
e me transbordo em (res)piração
tudo é volta, torcimento e distorção
certezas absolutas?
somente sobre o gelo calórico polar
quando duas voltas são três
absurdamente há eu
duas vezes eu sintomaticamente eu
dois são três e voltas depois só resta forma
o acaso não existe
nem a matemática

Cegueira

A Felipe Cox

É um mistério que se materializa ao lado dele, não há respostas, só o etéreo desfeito e cintilante. Brilha tanto que ofusca sendo quase nada, e cegando. O mister-io do futuro ido. Impossível de pegar ou de achar. Ele estava ali, cego e sorridente. É estar cego e feliz, é não poder agir e ser agido. Não é um simples ser levado pelo brilho, mas é ter aberto os olhos e ter-se permitido cegar-se. Quis ser assim acima de tudo, permitiu-se! Cego e feliz! Tantos veem, tantos sabem, tantos fecham os olhos e permanecem vendo, mas estão ali, incertos, inserenos, inseguros, inverdadeiros. Só ele deixou-se ser por ele, cego e feliz. Como pode? Como permitiu-se? Foi um desejo. O de estar ali e ver como é a luz extrema do mistério que o cegou, vê cego a própria luz do etéreo. Invejemos...

eu e a noite

Quando só há você e a noite
algumas estrelas invisíveis aparecem
a noite, manto negro, de tanto ser observada
mostra suas intimidades
virgem a ser despida
sem medo e com curiosidade
é meu olho ardente que a mostra
são meus olhos que detectam o intocável
envolvidos ambos pelo desejo mútuo
nos descortinamos
pegamos fogo e estamos nus
sozinhos, distantes, serenos, acima de tudo
ela sem olhos
eu quase invisível
nos encontramos num desencontro
o acaso
há mais verdade nessa invisibilidade
do que na realidade

Névoa

sim era só o invisível foi um pequeno fluxo de esperança mas era mais um espectro como todos os outros chorei ri e me cortei os eventos passam recalco o mesmo problema a perfeição mas estou aqui mais inteiro do que nunca mais leve independente e delicado eis o meu título e meta delicadeza quero descer da roda gigante não quero mais brincar ali quero ser eu mesmo a roda em si quero ser e ver os outros viverem em mim obrigado por tudo mas já passou passado é passado e a memória o resgata e o resgatará o futuro é imprevisível e o presente é necessário morte a derrida é o renascimento de mim mesmo na névoa que é ele