Este ensaio é parte de uma série de textos denominada Um guia ao jovem gay para a prosperidade originalmente publicado no Tumblr Homo-Online e disponível para a leitura no original em http://homo-online.com/post/53430704639. Tradução por marcuss souza.
Bom amor
De tempos em tempos, o amor faz todo mundo de bobo, mas os gays estão se tornando os Palhaços do Amor. Os gregos de Homero fizeram de sua deusa do amor, Afrodite, quase irresistível ao mesmo tempo em que era uma volúvel e frequentemente considerada uma prostituta. Eles entenderam o Amor desta maneira, mas o que estamos a fazer nos braços de tal subjugado amante tido como Amor? E qual a relação entre os homossexuais e o Amor, aparentemente deixados de lado nesta narrativa, pelo menos durante a (longa e negra) Era Cristã? Como dissemos anteriormente nesta série, acreditamos que o Amor, como promulgado pela GAY S. A., (o casamento pago e monogâmico para um Futuro ideal) é para nós o inimigo da nossa felicidade e satisfação. O Amor-como-uma-religião é um completo estranho para nós: uma doença cultural que usa o amalgama incoerente dos ideais cristãos e as formas do movimento romântico para criar ferramentas perfeitas à economia industrial; esta estrutura não pode pesar na nossa versão de uma vida feliz. A GAY S. A. quer que adquiramos o pacote completo: romance, encontros, monogamia, noivado, casamento, filhos (tudo por eles e pelo seu Futuro) que permanecerão sem destino nos “Achados e Perdidos” da Etna.
É claro, quem poderia negar que o Amor, em todas as épocas, é uma das mais potentes forças na vida humana? Sabemos que é um profundo e essencial impulso. Modela cada um de nós do berço e fora dele, a vida humana pode ser intoleravelmente árida. De fato, a maioria dos indivíduos, por um conjunto complexo de razões, (e mais comumente entre os jovens) encontra as flechas do Cupido e não está preparada. Dois livros de sábios escritores podem ajudar na servidão que o Grande Amor representa: Fragmentos de um discurso amoroso de Barthes e Do amor de Stendhal. (CUIDADO: ler autoajuda gay sobre o amor é correr um grande risco. É um gênero dominado por tolos e velhacos, desatinos e erros. Estes livros estão em nossa lista negra! Tanto o entretenimento como os sinais do amor gay, trabalhos esses auto-meditativos e superficiais, podem perverter uma boa mente jovem se forem levados a sério. É o mesmo que ter uma reunião do AA numa festa open bar. Sim, seus pobres bastardos, nós sabemos, já vivemos isso!) Mudando vivamente o nosso Grande Tour pelo Amor, como homossexuais, não é do fenômeno do amor que estamos tratando, mas da maneira desajeitada que isso não é compreendido e utilizado entre os homossexuais da moda. Para quem “o amor moderno” (da GAY S. A.) está a serviço é inteiramente uma outra questão (política e social), mas suficiente para saber o que o amor não é!
O que é, portanto, o amor-homo para nós?
A principio, o amor é um mistério e é significativo para permanecer, pelo menos em parte, neste estado se for para florear acima de tudo, ele precisa de uma agradável luz claro-escura, e isso é tão verdadeiro para as ideias sobre o amor como para os objetos amados. Pergunte demais e você matará essa exaltação alada. Da mesma maneira, se você simplesmente se tornar perdidamente apaixonado pelo amor, você estará desgastando seu espírito (e presumimos que você não é um idiota, se tem feito isso até agora). Nós rejeitamos a assertiva de Pascal de que “o amor tem razões as quais a razão não pode compreender”. As razões podem ser obscuras, mas acreditamos em amar alguém de corpo e alma: empregando a razão, o emocional e o sexual. O impreciso e lodoso verbo-substantivo usado contemporaneamente é insanamente cego. “Eu amo salsicha”. “Eu amo Paris”. “Eu te amo”. Esse termo é mais do que supérfluo para muitas discussões deste importante aspecto da vida. O Cristianismo e seus dois primos medonhos, além de sua horrível extensão gnóstica, tem determinado nosso entendimento do amor por mais de quinze séculos. Nós precisamos desenterrar esta sabedoria que permanece soterrada pelo entulho da em parte morta Igreja a fim de alcançar a prosperidade. Para uma melhor descrição desta força e seus eflúvios, é necessário retornar à sabedoria dos Gregos antigos para reconhecer palavras superiores, pois palavras superiores ajudam a pensar de uma forma superior. Continuamos a afirmar que o amor não é um objeto, mas é como uma molécula constituída de diversos elementos. O Amor no plural, familiar para muitos, que é descrito pelos Gregos antigos inclui:
Storge – amor ou afeição familiar, de clã ou de tribo, amor de viajantes, companheiros ou mesmo familiares.
Eros – o amor carnal por outra pessoa, a luxúria.
Philia – sentimento de companheirismo respeitoso, amizade profunda, gratificante e duradoura.
Agape – amor abnegado, incondicional e altruísta por um outro ou por um grupo.
Os gregos antigos da Era de Ouro acreditavam na hierarquia do amor, com Agape no topo, mas todos eram importantes no equilíbrio da ordem de uma vida feliz. Eles também pensavam que esses elementos eram compostos de partículas específicas. O que isso significa? Um bom homossexual precisa ler O banquete de Platão, o qual inicia na Grécia antiga a lista do festival das bichas, além de seu tema ser familiar em qualquer cenário gay. Homens que amam homens serão levados a se questionar de forma perplexa, “Por que nós amamos da maneira que amamos?” Pelo menos em um nível, a resposta heterossexual é tão óbvia hoje quanto era na época: a magia de Eros dura quase o mesmo tempo que se leva para cortejar, conceber, gestar, ter um filho e vê-lo crescer. O amor Eros é um programa da Natureza para gestar filhos, um maneira tola de homens e mulheres dentro do seu ato irracional e pessoal de reprodução, mas essa resposta deixa de fora o amor-homo. (É necessário ler esse discurso essencial para descobrir mais sobre o amor, não pelas respostas, as quais são intrigantes, mas pelo método socrático de convencer através de uma resposta mais satisfatória). Tão informativo quanto relevante quanto o passado possa ser, o que seria de “nós”, vivendo nessa época sombria? Como nosso ponto de partida, O Banquete, inicia deste ponto em diante um Jogo do Amor completamente diferente para nós: o mais importante princípio é a ideia de que o amor existe em diversos sabores e variedades e que o amor é, em si e para si, parte da injunção “conhece a ti mesmo”, tentando colocar isso num contexto, irracional e em todos os outros, acreditamos que o Amor é a educação mais importante e desafiadora a qual temos na vida. Esse caminho é mais difícil do que a conformidade dos Normais, certamente. É verdadeiro, é simplesmente muito difícil para a maioria. E afirmamos, estamos satisfeitos com essa dificuldade, nós recrutamos somente os mais determinados.
Agora, com todos agitados, permita-nos tratar sobre o amor-homo.
Eros, embora fundado num fato biológico sólido “os opostos se atraem” (porque isso geralmente ajuda a confundir as informações genéticas, a partir da ideia de que a natureza adora nos atacar com surpresas, pragas, o dente de sabre ou um acidente nuclear) cria uma maquiagem genética variável e auxilia o homo sapiens a lidar com todas as estilingadas e flechas que nossa boa e velha “mãe natureza” nos arremessa. Certamente, é a natureza diversificando seus investimentos, e nós entendemos o porquê, mas isso tem causado uma dor de cabeça interminável entre os homens. Mas o que isso importa para as bichas? Fomos simplesmente condenados pelo reto? Desde que nós (gays) não participamos diretamente do ato reprodutivo, devemos evitar o difícil/impossível amor? Há coisa melhor a se fazer do que amar o Escolhido?
Acreditamos que não existe o mítico Escolhido. O amor não é um mito de empate, mas este jogo é defendido profundamente na vida humana. A forma que isso tomou hoje foi construída sobre um canal entranhado na necessidade reforçada por meio da natureza do amor e da afeição (ou da ansiedade, ou do cuidado ou da confiança). Nós aprendemos esta forma de amor desde a primeira infância. A Teoria do Apego trata autoritariamente sobre o assunto e pode ser entendida somente por baixo da maior parte desse desespero, é compreensível o pânico (real e evolutivo) que muitas mulheres sentem ao serem usadas como brinquedos e depois abandonadas para educar uma criança sozinha ou quase. Há vezes em que uma mãe solteira, como o sexo homossexual, significa desonra ou mesmo a morte, com semelhança deletéria na história secreta.
Este é o acondicionamento o qual os gays estão tão impacientemente ruminando em suas barrigas por terem nascido dos heterossexuais. Permita que eles se orgulhem disso. (Leia o brilhante, No Future de Lee Edelman o qual demole por completo esse raquítico edifício). Assim para nós, sabemos que precisamos de mais de uma pessoa para sentirmo-nos satisfeitos, melhor, precisamos de muitos amores. Encontrar o Escolhido é pior do que uma distração, é um gasto desnecessário de energia que nos priva das mais altas formas de estudo, trabalho e de amizade: o que nós podemos denominar de amor profundo ou real? O Escolhido sempre aparecerá, preparado ou não, e normalmente se vai, com a mesma espontaneidade. Se você cedeu para dois ou três escolhidos até os seus 30 anos, você já pode se considerar um doutor no assunto ao invés de ter vivido um pacote completo de dor e miséria. O que pensar da ideia de que toda essa putaria socializante de encontro toma mais tempo do que estando com um namorado? Um pequeno experimento: pegue um calendário e faça as contas. Curtindo ou namorando. Sim, é chocante a diferença. (Para mais sobre a filosofia e a prática do poliamor, leia The Ethical Slut de Easton e Hardy).
O amor que cada um tem é único e precioso. Para nós, isso é simplesmente uma questão de respeito e honestidade. O amor (Sorge) que temos por uma avó é muito maior do que temos por alguém o qual passamos a noite (Eros), mas em alguns casos os dois são incomparáveis. Isto não os torna menos real ou importante, à sua maneira. Como um vinho fino, uma ligação amorosa possui em si uma complexa mistura de muitos elementos (no caso, quatro) do amor. Todos os amores (amizade, amantes, clã) podem ser valorosos fins em si mesmo, mas se todos eles tornam a vida Caça e Captura, do que serve o tempo que resta? Unir um par de vidas que estão apenas caçando o amor como o significado da felicidade acaba criando uma economia da fome. Não, alguém precisa estar preparado. As mais altas formas de amor, Philia e Agape demandam que alguém tenha mais a trazer a mesa do que somente um pênis. Viva, aprenda (sendo um novato) e então traga tudo isso para os seus diversos amantes. É assim que acreditamos. Por estas razões, o ideal hodierno de “monógamos em série” que se “encontram” e “se veem” e “terminam” (estas palavras não possuem significado algum no nosso vocabulário) com uma pessoa e então (inevitavelmente) estão com outra pessoa dentro de alguns meses, parece estar em um caminho desvairado e depravado, até serem exaltados pelo Departamento Gay de Serviços do Amor (uma subsidiária da GAY S.A.) por aprender seu próprio caminho.
O amor-homo difere de uma maneira muito importante da sua contraparte hétero. O amor que ousa não falar o seu nome, hoje fala demais (e de forma confusa) e o tempo todo, e mais do que isso, fala sobre como o amor é um disparate heteronomativo. Um homem amando um outro homem será diferente em diversos fundamentos do amor-hetero, como o amor-hetero em voga nos Estados Unidos é diferente do Japão, da contemporânea Buenos Aires ou mesmo do tradicional casamento mórmon. Sim, com certeza, certamente, sim mais uma vez, é o construtivismo social, mas isto é somente uma parte da explicação. Devido ao fato da Teoria dos Povos saber tanta ciência quanto “The Village People”, somos entendidos a partir de uma triste figura de nossas vidas a partir de sua perspectiva (hoje uma visão dominada por uma vida afetada). Somos muito plásticos em nossas performances de gênero, mas não tão indefinitivamente. A Teoria de dupla herança toma o construtivismo social e o biologismo e cria uma síntese satisfatória que não é burlesca. Para tanto falamos para aqueles que somente nos escutam e concordam:
Muitos homens que amam homens não foram feitos para a monogamia, prisão do casamento tradicional com fins reprodutivos. Nós podemos encontrar muitos outros meios satisfatórios para amar do que aquele que acontece “naturalmente” (leia-se: demasiado não natural para a maioria) para nós: sim, caçar no Grindr (oh, obrigado, oh deuses da tecnologia) por uma relação amigável de longa duração é um ideal acima do casamento, mas também uma devoção ao estudo e ao trabalho, uma espécie de vida monástica semi-contracultural (com a mesma quantidade de sexo anal), é o que realmente defendemos. Sim, você deveria se casar com seus amigos! O “Amor sem asas”, como Byron o chamou, não nos obriga a colidir e queimar a cada dezoito meses e necessitar reiniciar com um grande esforço quando você ama muitas pessoas. Os Amantes vem em segundo lugar, ponto final. O casamento é um completo estranho para nós como um Clube Masculino do Vaticano que defende o homem que ama outro homem. Simplesmente não somos gays hipócritas e perversos. Então, sim, o casamento está, claramente, fora de questão. A verdade é: muitos gays já vivem dessa maneira, se não por um meio de autoconsciência.
A nossa tradicional “família” tem se tornado um grupo forte de amigos e seus amantes. Assim é como nos contemos e ampliamos nossa forma de gerenciar a economia doméstica. Sim, certamente você dirá, mas perceba o que aconteceu com todas essas comunidades de enrolados na década de 70. Existe realmente algum modelo que funcionou? Há um termo que os russos utilizam de forma caluniosa para descrever a variada estrutura da economia doméstica “liberal” na Europa Ocidental: família sueca. Significa uma família na qual muitas pessoas se relacionam umas com as outras de acordo com o passar do tempo, frequentemente gerando muitos filhos com diferentes parceiros e ainda se consideram um clã. Isso é muito comum na Escandinávia e em outros lugares mais cultos. O mais interessante é que esta é mais ou menos uma extensão antiga do modelo familiar para a maioria dos homens do tempo das cavernas. Voltando para o futuro, é claro que há, às vezes, lealdades divididas e irritantes complexidades neste modelo, mas é muito mais honesto e durável do que o frágil modelo familiar tradicional e “nuclear” (leia-se: feito em escala industrial, altamente tóxico e propenso a explosões). A GAY S.A. está ocupada comprando estoques desse desastre nuclear familiar (e cantando nossos nomes, amaldiçoados sejam, fraudadores!). Nosso modelo certamente é hetedoxo e contracultural (certamente Onfrey o denominará de micro-revolução), mas vocês (pessoas do arco-íris) pedem por diversidade, dizem que estão abertos a isto e aqui está na forma de uma tribo barbada e poliamorosa. O que poderia ser mais tradicional do que isso?
Nós temos idade suficiente para lembrar outras maneiras de homens amarem homens. Claro, a catástrofe da praga acabou com muitas delas, por completo o ideal foi desacreditado, seus patrocinadores foram literalmente mortos para e devido a bandeira do sexo e da libertação pessoal. Mais do que isso, é uma pena que os Gays pensem que esses homens desgraçaram a homossexualidade, nós discordamos. Questionar o amor-hétero é aflitivo e uma ordem infeliz pode se tornar uma segunda natureza para as bichas, as quais foram abusadas e negligenciadas por esta cultura através tempos, mas longe de nós a GAY S.A. desejar-nos o amor agora, pelo menos como uma ideia, um show do Menestrel Casamento a favor dos héteros e seus aliados. Precisamos redescobrir uma gramática antiga a qual perdemos no agito dos últimos 30 anos: a linguagem do amor-homo. Muitos homens já estão procurando por estas palavras por trás dos sentimentos e das ideias que um dia estarão a nossa frente. As inadequações do casamento hétero e do Scruff podem se tornar óbvias para qualquer pessoa pensante e sensível devido ao difícil questionamento do significado do amor.
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