Um espadachim e um livreiro se veem pela primeira vez numa praça. Eles se olham e se amam. Mas eles não podem se olhar ou se amar. O mundo não permite. Então, eles andam lado a lado, na direção de um vale. E lá se olham e se amam, mas não podem se amar. Os olhos não deixam. Uma lágrima cai dos olhos do livreiro. Uma lágrima cai dos olhos do espadachim. Eles se olham e se amam. Mas o vale não os permite amar. Eles pegam um na mão do outro. E outra lágrima cai. E outra e outra e outra. De mãos dadas enchem o vale. Formam um lago e do lago escorre um rio inteiro. Um rio de não se permitir amar. Hoje, eu estou a beira do lago, olho para dentro da água e vejo dois rostos encostado um no outro. Eles não puderam se amar. Olho minha imagem refletida no lago, ela escorre pelo rio. Choro e preencho o lago com minhas lágrimas. Volto meus olhos para o horizonte, e lá há um pintor e seu cavalete, e uma lágrima. Ele faz o meu retrato. Eu o olho e o amo, mas ele não pode me amar. Há um lago de diferença entre nós. Choro e minhas lágrimas preenchem o lago, escorrem pelo rio. O que fazer a não ser pular no lago? O que fazer a não ser segurar a lágrima que escorre do rosto do livreiro e do espadachim?
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